A preocupação gerada entre pequenos e médios produtores rurais de todo o Estado de São Paulo devido à iminência do fechamento das Casas da Agricultura (Cati) pelo atual Governo do Estado também me deixa apreensiva.
Sem qualquer experiência prévia em agricultura, foi a Casa da Agricultura de Cândido Rodrigues, uma pequena cidade de 3.000 habitantes na região central do Estado, que me auxiliou nos primeiros passos como produtora orgânica. Como não há outros agricultores orgânicos no município, os técnicos da Cati me levaram para conhecer e conversar com produtores da região. A partir da experiência deles eu pude iniciar o processo de transição do sistema de produção convencional para o orgânico e conseguir a certificação.
Desde então eles acompanham e auxiliam meus passos como produtora rural. E é para lá que eu corro quando tenho algum problema ou preciso de informação. Eu sou jornalista, venho de uma cultura corporativa em empresa multinacional, tenho facilidade de buscar informação, com documentação e tecnologia. Ou seja, em tese eu teria condições de “me virar” sozinha. Mas na prática, não é isso que acontece. Agricultura é complexa e auxílio técnico no campo é fundamental para uma produção de qualidade.
Saber que tem a quem recorrer oferece segurança ao agricultor. Nenhum produtor quer ligar para um técnico para solucionar um problema por telefone. Da mesma forma que ninguém liga para um médico para fazer uma consulta. Agricultura se trata de vida. Da vida do solo, da vida das plantas. A prática é exatamente o contrário do que o secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Gustavo Junqueira, vem falando em entrevistas. Os profissionais da Cati não ficam apenas concentrados nas atividades administrativas. Eles estão em campo. As falas do secretário mostram falta de conhecimento da atuação dos técnicos da Cati.
As Casas da Agricultura são fonte de informação para os agricultores. Promovem encontros e eventos com especialistas para falar sobre manejo das principais culturas de cada região, apresentam novas tecnologias de campo, mantêm o produtor atualizado e auxiliam na emissão das documentações obrigatórias.
Outro ponto de destaque é: as Casas da Agricultura e os produtores rurais não estão vivendo numa estrutura analógica. Não pararam no tempo. O que há sim é uma diferença de níveis de conhecimento entre os agricultores familiares. Há os que estão mais evoluídos, os mais simples (que têm mais dificuldade com documentação e uso das tecnologias), e os que estão em áreas aonde a cobertura de internet ainda é limitada. E aqui é ainda mais importante o papel da Casa da Agricultura. É a Cati que trabalha para colocar todos no mesmo patamar, garantindo a eles as mesmas oportunidades.
É impossível pensar na agricultura paulista sem a participação da Casa da Agricultura. Estão intrinsicamente ligadas. Há toda uma história e um trabalho de assistência e extensão rural que estão sendo diminuídos pela proposta de “reestruturação” do atual Governo do Estado.
Eu guardo com orgulho um certificado do meu avô materno de um curso promovido pela Cati.
Ele já participava dos eventos, depois meu pai participou e hoje eu participo. Existem centenas de outros agricultores com histórias semelhantes. Portanto, nós agricultores não podemos nos omitir num momento em que há o risco de ficarmos todos órfãos.
PS – Hoje, as Casas da Agricultura já não levam mais este nome. No ano passado, o atual Governo do Estado de São Paulo trocou um nome com décadas de história para Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS).
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